Queda da popularidade de Lula, Ibovespa em alta e mais
Os números do Datafolha devem ter caído como uma bomba no Palácio do Planalto. A queda na aprovação de Lula, de 35% para 24%, acompanhada do aumento de 34% para 41% daqueles que consideram seu governo ruim ou péssimo, é um acontecimento nunca visto ao longo de seus dois mandatos e meio conduzindo o país.
Lula não apresenta os sinais de senilidade que forçaram Biden a desistir de disputar a reeleição. A popularidade do presidente brasileiro, porém, começa a ser assombrada por uma circunstância que, no caso de Biden, foi muito mais nociva do que os lapsos de memória e o raciocínio lento no debate presidencial contra seu rival Donald Trump.
Mesmo antes da campanha eleitoral começar oficialmente, Trump e seus apoiadores já bombardeavam as redes sociais com toda espécie de críticas sobre o aumento do custo de vida para o cidadão americano. Por mais que integrantes do governo Biden comemorassem que a inflação havia caído de 9,1% para abaixo de 3% ao ano, a mensagem martelada à exaustão pelos republicanos era que o bife estava quase 40% mais caro e abastecer o carro custava quase 60% a mais do que no final do governo de seu antecessor.
Situação semelhante vem sendo enfrentada por Lula aqui no Brasil. Embora o Banco Central tenha sido bem-sucedido em trazer a inflação do patamar de 12% ao longo de 2022 para 4,5% ao ano atualmente, a expressiva variação nos preços de alguns itens essenciais no dia a dia dos brasileiros tem causado grande impacto sobre a aprovação do presidente. Com o café tendo ficado 50,35% mais caro nos últimos doze meses, seguido de aumentos significativos de itens como contrafilé (20,61%), gasolina (10,71%) e serviços como o de manicure (10,13%), a sensação que se difunde na sociedade é que Lula não cumpriu a promessa de oferecer picanha barata para o eleitor.
Lula e os integrantes de sua equipe econômica podem até argumentar que o aumento de preços foi mais do que compensado com a elevação do rendimento médio real da população. De fato, conforme pode ser visto no gráfico, os dados do Dieese mostram que o comprometimento do salário-mínimo com o custo da cesta básica caiu nos dois anos da gestão petista em relação ao patamar observado no final do governo Bolsonaro. No entanto, como aconteceu nos Estados Unidos, o eleitor tem memória longa quando se trata de perda de poder aquisitivo – e o fato é que Lula não conseguiu reverter totalmente o forte crescimento do custo de vida observado desde a pandemia.
Outro aspecto que chama a atenção é o fato de que Biden e sua vice, Kamala Harris, mostraram-se inviáveis eleitoralmente mesmo com a economia americana vivenciado uma situação de pleno emprego. Às vésperas da eleição, o número de postos de trabalho ocupados nos Estados Unidos havia crescido 11,3% durante a administração dos Democratas Biden. E mesmo com o mercado de trabalho superaquecido, com os empresários com dificuldades para contratar mão-de-obra, a direita americana conseguiu convencer parte significativa do eleitorado de que o fechamento da fronteira com o México e a deportação em massa de imigrantes representava uma solução para os problemas internos do país.
Felizmente o Brasil não tem problemas massivos de discriminação contra imigrantes como nos Estados Unidos, mas por aqui recrudesce o sentimento de que os benefícios sociais, principalmente o Bolsa Família, estão desestimulando as pessoas a procurarem emprego.
Apesar de hoje termos mais pessoas recebendo o benefício (eram 14,5 milhões de famílias em 2021 e agora são 20,5 milhões) e seu valor médio ter sido turbinado de R$ 190 para R$ 670 mensais, não há evidências, porém, de que essa situação tem afetado o mercado de trabalho brasileiro. Segundo dados da PNAD Contínua divulgados nesta sexta-feira, o número de pessoas fora do mercado de trabalho ficou praticamente estável nos dois últimos anos. Além disso, a quantidade de pessoas desalentadas e que trabalham menos horas do que gostariam está caindo, enquanto o número de empregados cresce em todas as categorias – exceto trabalhadores domésticos com carteira assinada.
O fato de Lula não conseguir capitalizar, em popularidade, os níveis historicamente baixos de desemprego e a principal vitrine de sua gestão ser vilipendiada pelos adversários dão a dimensão do problema que o líder petista enfrenta.
Por fim, é inevitável não fazer um último paralelo com Joe Biden. Caso o presidente decida não concorrer à reeleição, por motivos de saúde ou por medo de colocar sua história vitoriosa a perder entrando numa campanha com popularidade baixa, o tempo joga contra. Escolher um sucessor perto demais da eleição, como aconteceu com Kamala Harris, pode ser fatal.

Fonte: valor.oglobo.com