Ciro Nogueira diz que Bolsonaro já tem candidato da direita para 2026
A definição do principal nome da oposição para disputar a Presidência em 2026 deve ser anunciada somente em janeiro, segundo o senador Ciro Nogueira (PP-PI). Em entrevista ao jornal O Globo, ele afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro já tomou sua decisão sobre o candidato de direita, mas mantém o nome em sigilo e deve comunicar oficialmente no final do ano.
De acordo com o parlamentar, apenas dois nomes têm condições reais de disputar o Planalto com apoio de Bolsonaro: Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), governador de São Paulo, e Ratinho Júnior (PSD-PR), governador do Paraná. Ambos apresentam índices de rejeição inferiores aos de Bolsonaro e mantêm alto potencial de crescimento eleitoral, com cerca de 40% de desconhecimento no país.Play Video
O papel de Tarcísio e a influência de Bolsonaro

O senador acredita que Tarcísio só deixaria de tentar a reeleição para governador se houver um chamado direto de Bolsonaro para concorrer à Presidência. Ele relembrou que, em 2022, o ex-presidente já havia influenciado Tarcísio a disputar o governo de São Paulo, decisão que foi acatada e resultou em vitória. “Não tenho dúvida de que, se tiver o chamamento do Bolsonaro para a Presidência, ele não vai virar as costas”, disse Ciro Nogueira ao O Globo.
No cenário atual da direita, Ciro Nogueira avalia que Tarcísio busca unir diferentes correntes, sem desconforto diante da divisão interna. O senador relata conversas frequentes com o governador paulista e diz que ele mantém respeito por outros nomes do grupo, como o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se declarou pré-candidato à Presidência. “Eu mesmo disse ao Eduardo: ‘está na hora de focarmos em defender seu pai e enfrentar o verdadeiro adversário, que é o Lula’”, afirmou.
Sobre a composição da chapa, Ciro Nogueira esclarece que não trabalha para ser vice e defende que a escolha desse nome ocorra posteriormente, com a consideração do perfil do candidato principal e do apoio dos partidos. Ele elogiou a senadora Tereza Cristina (PP-MS) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro como opções. Na mesma fala, destacou que a mulher de Bolsonaro aparece bem nas pesquisas e que o ex-presidente teria indicado sua candidatura ao Senado.
O senador reforça a necessidade de união entre direita, centro-direita e as alas mais radicais. “Nós precisamos de um candidato que unifique a direita e o centro, alguém que possa fazer campanha aqui no país, preparar um plano de governo, percorrer o Brasil”, disse. “Infelizmente, o Eduardo não cumpre esses pré-requisitos porque ele está nos Estados Unidos.”
Ciro Nogueira comenta suposta divisão da direita

Indagado sobre o papel de Bolsonaro e de seus filhos na direita, Ciro Nogueira aponta para Eduardo como principal representante desse segmento, enquanto considera o ex-presidente mais próximo da centro-direita, principalmente nos últimos anos de governo, quando adotou posturas moderadas e nomeou ministros desse perfil.
Em relação às críticas internas à busca por união, o senador relata diálogo recente com Eduardo Bolsonaro, com respeito e amizade. Ele afirma que não se sente atingido pelas divergências e entende a postura de Eduardo diante da situação de seu pai. “Não sei o que eu faria se meu pai estivesse sendo tão injustiçado como ele sente em relação ao dele”, declarou. “Então, não posso julgar.”
O posicionamento do PP e o governo Lula
Sobre a permanência de integrantes do PP no governo Lula, o senador explica que há uma orientação para que ocupantes de cargos federais deixem os postos em breve. Ele espera que André Fufuca (PP-MA), ministro do Esporte, e Celso Sabino (União Brasil-PA), do Turismo, optem pela fidelidade à federação partidária. “Demos um prazo razoável, e até a próxima semana isso deve estar definido”, afirmou.
Indagado se aceitaria convite de Lula para tratar da participação do partido no governo, Ciro Nogueira descarta a possibilidade. Ele reconhece o legado dos dois primeiros mandatos do presidente, mas diz que não haverá conversa sobre apoio político. “Já tomamos a decisão de não estar com o presidente em 2026”, afirmou.
O senador reconhece tentativas de interlocutores do Planalto para reaproximação, mas reforça que a decisão do partido é não integrar a base governista. “Vários”, disse, sobre as abordagens. “Mais de uma dezena.”
Análise de Ciro Nogueira sobre cenário eleitoral
Em análise sobre o cenário eleitoral, Ciro Nogueira acredita que o crescimento da popularidade de Lula decorre de erros da oposição, especialmente na condução do debate sobre o aumento de tarifas. Ele classifica o atual governo como repetitivo e sem novidades, com programas relançados e comparações históricas. “O programa mais novo do governo é o próprio Lula”, afirmou.
A respeito das recentes manifestações da esquerda contra a anistia e a PEC da Blindagem, Ciro Nogueira admite erro coletivo na condução do tema. Ele afirmou que defende desde o início que a proposta abordasse apenas crimes de opinião, com votação aberta. Avalia, ainda, que a mobilização popular teve impacto positivo, mas acredita que o governo não possui capacidade própria de mobilização e apenas acompanha movimentos sociais.
Para o senador, o Congresso precisa votar rapidamente um projeto de anistia, preferencialmente amplo, mas ao menos com ajuste das penas. “Essas penas são absurdas”, disse. “Não dá para alguém que escreveu com batom numa estátua ter condenação maior do que quem matou. Existe consenso de que foram elevadas demais. Temos que corrigir.”
Ciro Nogueira ainda defende que o Senado aprove rapidamente o projeto de ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda, aprovado por unanimidade na Câmara. Ele considera que a iniciativa demonstrou união entre governo e oposição e cumpre promessas de Bolsonaro e Lula.
Por fim, ao responder críticas por não adotar pautas mais radicais, como impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes, Ciro Nogueira diz preferir focar em propostas viáveis e afirma que algumas pautas servem apenas para criar palanque, sem chance de avançar.

